sábado, 21 de julho de 2007

Elite da Tropa



Desta vez não escreverei uma resenha. Será apenas a minha opinião, uma vez que nem cheguei a finalizar a leitura.

Embora tenha lido unicamente as primeiras 45 páginas, foi-me o suficiente para saber que não seria produtivo seguir adiante. Antes de iniciar a leitura, analisei na contracapa o perfil dos escritores: Luiz Eduardo Soares, um dos antropólogos de maior reconhecimento nacional, quase um PhD, e dois chefes da Polícia Especial Brasileira, André Batista e Rodrigo Pimentel, os dois pós-graduados em Ciências Políticas. Pensei "O livro deve ser interessante. Pessoas cultas, inteligentes, estudiosas trabalharam juntas. Deve-me acrescentar algo". Não acrescenta nada.

O vocabulário é chulo, sujo, barato. As frases são mal formuladas. Além da desnecessária enorme quantidade de palavrões. A tentativa de atrair um público mais abrangente desatraiu-me completamente. O português foi sacrificado pelas mãos desses três homens.

Não adianta, existem pessoas e pessoas. Umas possuem um talento especial para a escrita literária, escrevem com qualidade, sem apelar a nada ou a ninguém. Outros, deveriam recolher a sua insignificância e ficar bem longe das canetas e computadores. Infelizmente, esses são os que mais se proliferam ultimamente. Neste mundo, onde o que mais vale são os bons marketing e publicidade - e o povo ignorante que se deixa abduzir por isso -, não há quase espaço para os escritores de real qualidade. Mas eles não são uma abstração, existem sim. Portanto, busquemo-os!!

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Istambul - Memória e Cidade


Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura por Neve ano passado, Orhan Pamuk é considerado um dos maiores nomes da literatura turca e contemporânea. Devido a ameaças sofridas por condenar a fatwa (sentença de morte imposta pelo aiatolá Khomeini ao escritor indiano Salman Rushdie, por "ofender" Maomé) e denunciar o genocídio armênio pelos otomanos, o autor auto-exila-se de seu país de origem e passa a viver em Nova York.

Normalmente, biografias utilizam-se de cenário e espaço apenas para dar cor à história de alguém. Em Istambul, ocorre exatamente o contrário. Pamuk recria a história de sua cidade através de lembranças e sentimentos de sua própria vida. Os passeios pelo Bósforo (estreito que separa a Europa da Ásia), as feiras de ortifruti, os incêndios, os literários, e, até mesmo, os dicionários: tudo faz parte da vida do autor, mas também da vida de toda Istambul.

As diversas fotografias contidas ao longo do livro contribuem para um maior envolvimento do leitor com o relato. Muito bem dispostas, nas páginas corretas, proporcionam uma sensação de vivência daquela história, uma percepção de que estamos presenciando aquelas imagens.

Através de uma linguagem em tom melancólico – no caso, hüzun, palavra turca que denomina essa melancolia -, Orhan quebra alguns tabus referentes à cidade. O principal diz respeito ao modo como os moradores sentem-se em relação a sua terra natal. Apesar dos estrangeiros enxergarem-na como parte ainda do Império Bizantino e admirarem incondicionalmente as ruínas de Constantinopla, seus cidadãos não – muitas vezes, inclusive, sentem vergonha de morarem unicamente entre ruínas. É bonito apenas para quem vê de fora, uma vez que para seus habitantes representa a decadência e a pobreza não só de Istambul, mas também de toda Turquia. Sentir essa hüzun é ver as cenas, evocar as memórias em que a própria cidade torna-se a exata ilustração, a essência da mesma, da hüzun.

Memória e cidade. E uma nova ótica a respeito de um dos locais mais importantes e influentes do milênio passado.

domingo, 1 de julho de 2007

Literatura e Revolução



Literatura e Revolução
inicia-se sem a intenção de tornar-se um livro; são apenas alguns ensaios sobre literatura reunidos que Leon Trótski escreve ao longo das décadas de 1910 e 1920.

Em 1923, é lançada a primeira edição completa. Além dos ensaios, consta uma grande crítica e análise aludindo a posição das obras artísticas frente a movimentação da Revolução Comunista na Rússia. Refuta fortemente os poetas parnasianos e suas poesias vagas, sem conteúdo; elogia aqueles que escrevem sobre sentimentos, sendo, muitas vezes, não compreendidos; e propõe um novo conceito, uma nova arte: a proletária. Lembra bastante o histórico da década de 20 aqui no Brasil - a Semana de Arte Moderna, a luta contra os parnasianos e os simbolistas, as inovações e as preocupações perante a realidade social e política do país.

Outra característica marcante da obra de Trótski é a presença de conceitos religiosos comunistas, o ateísmo. Sendo a religião uma discussão sempre polêmica, o autor aborda o assunto de forma sutil, através de frases conclusivas ao final de relatos. "Nascemos em Deus, morremos em Cristo e o Espírito Santo irá nos ressuscitar". É reconfortante, mas realmente não muito claro. A respeito da morte de um artista: Biely é um cadáver. E não ressuscitará em espírito algum, seja ele qual for.

Trótski nos proporciona uma belíssima leitura. Independente das crenças de cada um, o livro já vale apenas pela abordagem política e histórica do momento. A partir desse mínimo, fica a critério de cada um se as áreas cultural, religiosa e mesmo sentimental ficam somente como conhecimento ou se são levadas como crescimento pessoal.