quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Dublinenses



Dublinenses é o primeiro livro de ficção escrito por James Joyce e publicado em 1914. Consiste em 15 contos que retratam a vida em Dublin e o cotidiano de seus habitantes. A temática gira em torno, principalmente, de experiências infantis, relacionamentos conjugais e a vida pública, além, claro, das famosas epifanias (súbitas descobertas), encontradas também na obra de Clarice Lispector.


Os Mortos é o conto mais conhecido, e também mais longo, do livro. São 47 páginas relatando basicamente um amor imorredouro conservado ao longo de anos no coração de uma mulher. Após a festa de Ano Novo, Gretta e Gabriel dirigem-se ao hotel onde estavam hospedados. Gretta se posta pensativa a janela e, suspeitando que a causa seja um possível amor, Gabriel pergunta se o é realmente. Ela afirma que sim, mas que está morto. O conto se encerra com Gabriel ouvindo a neve cair brandamente – como se lhes descesse a hora final – sobre todos os vivos e todos os mortos. Mais do que somente a temática do amor, Os Mortos reflete a idéia do isolamento, da inabilidade que temos para realmente conhecer outros, mesmo os mais próximos dos seres humanos. Dentre outros motivos, talvez possa destacar como esse sendo um dos maiores motivos para o sucesso do conto, além da sutileza incrível com que James Joyce consegue descrever cenários e sentimentos.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

A Bela e a Fera




Embora seja um livro póstumo de contos, A Bela e a Fera reúne os primeiros contos escritos pela autora, aos 14 anos, e dois dos últimos que escrevera, antes de sua morte, contrastando, assim, a evolução e maturidade em sua escrita. Já no início de sua carreira literária, percebe-se um esboço das características que acompanharão todas as obras de Clarice: o universo feminino, suas aflições, a mediocridade das relações humanas, uma reflexão constante em entender o sentido de sua existência. Como entender-me? Por que de início aquela cega interação? E depois, a quase alegria da libertação? De que matéria sou feita onde se entrelaçam mas não se fundem os elementos e a base de mil outras vidas? Sigo todos os caminhos e nenhum deles é ainda o meu. Fui moldada em tantas estátuas e não me imobilizei... (“Obsessão”, p. 59)


Analisando os seis contos da primeira parte, e os dois contos da segunda, nota-se nitidamente a evolução de sua escrita. Ainda que a temática mantenha-se a mesma ao longo de sua carreira literária, o modo como escreve, e, inclusive, seu vocabulário e formulação de frases, mudam – para melhor. Cerca de 35 anos separam as duas fases do livro, mas a essência de Lispector encontra-se fiel desde a primeira linha.