domingo, 5 de agosto de 2007

O dia em que Getúlio matou Allende, e outras novelas do poder




“Nestas novelas do poder, nada é inventado e tudo em verdade ocorreu. Se, ao longo do relato, a trama se desenvolve como num romance em que as paixões se exteriotizam no amor e no ódio, na ilusão e no sonho, na vaidade e no embuste – ou se atritam entre si, como na ficção convencional -, tudo se deve a que, nas profundezas do seu íntimo, a realidade é assim: soa como ficção”.

Flávio Tavares, jornalista, formado em Direito, presencia os fatos de maior importância da história brasileira e mundial do século passado – ascensão e queda de Vargas, Ditadura Militar, Segunda Guerra Mundial, conflitos da Guerra Fria. Através da experiência como líder da UNE e, posteriormente, como jornalista, o autor recria memórias e acontecimentos ilustres do ambiente político.

O título insinua uma alegoria. Os dois primeiros capítulos falam de Salvador Allende e de Getúlio Vargas. Ao lê-los, percebe-se o porquê do autor sugerir esse título. Através de uma conversa com o presidente chileno na Antiga URSS, Tavares capta certo encanto nos olhos de Allende ao contar sobre o suicídio de Vargas e o fato disso ter, de certa forma, imortalizado com heroísmo o antigo ditador brasileiro. Com a sua queda em 1972, e posterior morte em 1973 – a versão (quase) oficial remonta ao assassinato pela polícia americana. –, o autor sugere que Allende suicidou-se também, a fim de, assim como Getúlio, imortalizar-se frente à história mundial e, principalmente, de seu país. Aí surge o título. “O título é uma metáfora ou alegoria. Mas, ao brotar de algo vivido, é uma alegoria que passa a ser real”.

Passando por Dutra, JK, Jânio, Jango, Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel, Figueiredo, e outras figuras da cena internacional – Perón, de Gaulle, Che Guevara, Frida Kahlo -, Flávio Tavares nos transmite o que significava viver naquela época. Os medos, as incertezas, os conflitos, tudo aparece em O dia que Getúlio matou Allende, da forma mais sutil e dinâmica possível. Um relato, que como o próprio autor diz, confunde-se totalmente com a ficção.

Talvez a realidade seja isso mesmo, uma mera história de ficção.