sábado, 19 de janeiro de 2008

A Revolução dos Bichos



Cansados dos maus tratos causados por seu dono, o Sr. Jones, os bichos da Granja do Solar resolvem fazer uma revolução, em que qualquer hábito humano seria proibido e todos os animais seriam iguais e livres. Inicialmente, tudo transcorre conforme planejado. Entretanto, ao longo dos anos, o poder vai corrompendo os ideais daquela revolução. Os que assumiram cargos “superiores” passam a desrespeitar normas prescritas, adaptá-las ao seu bem estar e abusar do trabalho e fidelidade dos demais bichos viventes na fazenda.


Através de uma fábula simplista, George Orwell cria uma excelente sátira à Revolução Russa de 1917. O dono da granja, Sr. Jones, é facilmente identificado como uma alegoria ao czar Nicolau II, devido ao seu também apreço ao álcool e descaso com a população. Assim como o porco Napoleão – que assume o poder da granja – seria Stálin, e o banido porco Bola-de-Neve, inicialmente a figura mais importante da revolução, seria Trótski. Todos os demais animais também possuem suas identificações alegóricas, ao exemplo dos cavalos Sansão e Quitéria – representando o proletariado, trabalhando incansavelmente e sendo sempre fieis aos ideais – e do porco Garganta – representando o sistema de propaganda do governo.


Apesar de ter sido escrito intencionalmente como uma crítica ao comunismo, A Revolução dos Bichos pode ser hoje facilmente aplicada a qualquer tipo de governo, onde o poder absoluto corrompe aqueles que o exercem, e onde a ilusão de um Estado igualitário desaparece perante essa corrupção.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Agosto



Misturando ficção e realidade, Rubem Fonseca consegue escrever um excelente relato do panorama político brasileiro em agosto de 1954, desde o planejamento do atentado a Carlos Larcerda até a morte de Getúlio no dia 24, confundindo inteligentemente aqueles desprovidos de uma boa noção acerca dos acontecimentos dessa época. Paralelamente, uma novela fictícia se funde à história, onde o comissário de polícia Alberto Mattos investiga a morte de um empresário milionário. Fatos vão-se interligando, entre o real e o inventado. E como a maior parte dos romances de Rubem, Agosto também é repleto de personagens, todos com casos complicados e mal-resolvidos, problemas pendentes, e que, de alguma forma, se interligam uns aos outros.

O comissário Mattos, assim como a quase totalidade de seus protagonistas, é um indivíduo obcecado, real, cheio de defeitos, de personalidade única. Além de não quebrar a linha de estilo do autor, é funcionário da polícia – tendência já observada pelo fato de Rubem ter iniciado sua carreira na polícia e ser formado em Direito.


Muitos consideram Agosto como o melhor livro de Rubem Fonseca (embora tenha de discordar, visto que elejo Feliz Ano Novo o melhor); outros, como o melhor romance apenas. Independente, o livro encabeça o topo dos melhores livros do autor, e depois de lê-lo, não é difícil perceber o porquê.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Clarice Lispector




Em sua última entrevista antes de sua morte, naquele mesmo ano (1977), Clarice Lispector já resumia toda a intenção de sua obra: Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro... Considerada um dos maiores nomes da literatura brasileira – especialmente a do século XX -, a obra de Clarice possui profundo caráter psicológico; são análises, desabafos, enredos a respeito da nossa medíocre existência.


Nascida em Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro de 1920, chega ao Brasil após dois anos, em março de 1922. Sua carreira como escritora inicia-se efetivamente em 1943 com a publicação de seu primeiro livro Perto do Coração Selvagem. Recebe duras críticas ao seu novo estilo literário, sendo considerado, inclusive, uma “experiência incompleta”, ao passo que, no ano seguinte, recebe o prêmio Graça Aranha de melhor romance. Morre de câncer em 1977, no Rio de Janeiro.


Muitos dos críticos que a classificam comparam seu estilo ao de James Joyce e Virginia Woolf – respectivamente, autor irlandês e inglês – por seu intimismo, sua problemática de caráter existencial e suas análises, muito presente também na obra dos dois. Dentro da literatura brasileira, não existe nenhum nome que se compare à Clarice e nem a sua escrita; alguém única, inovadora, extremamente inteligente e perturbadora.


OBRAS:

Romances:


Perto do Coração Selvagem (1943);

O Lustre (1946)

A Cidade Sitiada (1949)

A Maçã no Escuro (1961)

A Paixão segundo G.H. (1964)

Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres (1969)

Água Viva (1973)

Um Sopro de Vida - Pulsações (1978)


Novela:

A hora da estrela (1977)


Contos:


Alguns contos (1952)

Laços de família (1960)

A legião estrangeira (1964)

Felicidade clandestina (1971)

A imitação da rosa (1973)

A via crucis do corpo (1974)

Onde estivestes de noite? (1974)

A bela e a fera (1979)


Correspondência:


Cartas perto do coração (2001) -
Organização de Fernando Sabino

Correspondência - Clarice Lispector (2002) -
Organização de Teresa Cristina M. Ferreira


Crônicas:


Visão do esplendor - Impressões leves (1975)

Para não esquecer (1978) -
contos inicialmente publicados em Laços de família.

A descoberta do mundo (1984)


Entrevistas:


De corpo inteiro (1975)