sábado, 8 de dezembro de 2007

Jornalisticamente Incorreto




Pernambucana de Recife, Marilene Felinto é jornalista e escritora, além de alguns trabalhos como tradutora. Em seu livro Jornalisticamente Incorreto, reúne crônicas publicadas ao longo de 1997 a 1999 no jornal Folha de São Paulo, onde trabalha atualmente como colunista. Através de uma escrita direta, crítica e, pode-se dizer também, sarcástica, Marilene aborda temas de convívio comum a todos nós – política, futebol, religião, desigualdades sociais, amor, além de, claro, a imprensa e o jornalismo. Aliás, o próprio título do livro refere-se à incapacidade da autora em encaixar-se nas normas e condutas pré-impostas da mídia jornalística. Não me ajusto ao jogo de blefes e cartas marcadas que é o jornalismo contemporâneo.

Suas crônicas são repletas de raiva, nojo, uma descrença na sociedade da época (a sociedade também não mudou muito nestes últimos oito anos; tudo o que está escrito pode facilmente ser transportado para a atualidade). Escreve como Clarice Lispector certa vez disse: sem esperança do que eu escrevo altere qualquer coisa, não altera em nada. Tudo parece ser um grande desabafo frente à hipocrisia generalizada que se tornou a vida humana, e isso é o que torna seu livro tão envolvente e verdadeiro. Torna-se impossível não se identificar com pelo menos um dos seus diversos pontos de vista, se não com todos. A escrita perturbadora da autora, no mínimo, fará com que o leitor finalize a leitura e reflita sobre os assuntos retratados com menos ilusão do que o que nos é imposto todos os dias.

“É por isso que, ópio por ópio, cada vez mais gente (rica e pobre, que a Igreja xinga de “apóstatas”) anda preferindo ficar em casa cheirando cocaína e fumando maconha. Pelo menos a ilusão é muda, não fala, não cospe regras de vida e doutrinas incongruentes, não diz besteiras de altar e púlpito. A humanidade – e seus profundos enigmas, que a religião tenta responder – nunca esteve tão perdida, tão enganada e só.” (Ressonância: pobres e ignorantes vão à Igreja, p. 347)

Um comentário:

Leandro Rodrigues disse...

Bah, Jessica. Fazia tempo que eu não conseguia dar uma olhadinha no teu blog.
Parabéns. Tá escrevendo muito bem (como sempre).
Coloca um desses posts lá no ContraPontoCom. Qualquer um, mas gostei bastante de "O dia em que Getúlio matou Allende".