terça-feira, 8 de abril de 2008

O Homem Secreto (cont.)


(...) Assim, segue-se todo o processo investigativo do jornalista. Através de tudo o que ele mesmo sabia, ou procurava descobrir, juntamente com os fatos relatados ou simplesmente confirmados por sua fonte, Bob Woodward escreve todo o necessário para que o Watergate seja revelado e tenha suas conseqüências correspondentes. A mídia passou a divulgar matérias e enquetes sobre as múltiplas possibilidades de identidade do Garganta Profunda. Ao longo dos anos, as possibilidades foram diminuindo, visto que muitos foram morrendo. Em diversas ocasiões apontaram o nome de Mark Felt como o responsável pelo personagem, o que ele sempre negou friamente. Aos 91 anos de idade, finalmente decide revelar a verdade, já meio esclerosado e com serissimos problemas de memória. Inicialmente, a família fica sabendo do fato – já que nem ela sabia – e apóia a confissão. Assim, um documento assinado por membros da família, advogado e médicos (atestando ser verdadeira sua falta de memória) permite que a revelação seja divulgada pelos meios de comunicação.


Bob Woodward é, inegavelmente, um ótimo jornalista. Mas em O Homem Secreto não primou pela profundidade da análise e deixou dúvidas sobre até que ponto suas informações correspondiam inteiramente aos fatos. Além disso, faltou informações para o leitor da forma como ele tinha acesso a tantos detalhes da Casa Branca e tão rapidamente. Visto que, num âmbito geral, o autor escreve apenas sobre sua relação com Mark Felt, descrevendo toda a relação que mantinha com ele e como desenvolvia suas notícias e reportagens através da ajuda do informante, talvez a principal razão da importância desse livro seja demonstrar a prática bem realizada da entrevista off the record, que seria sem a atribuição da fonte. Essa prática é fundamental para a instituição jornalística, ainda mais num período histórico em que ela está sob risco, especialmente nos Estados Unidos. A história que Bob Woodward nos conta em O Homem Secreto demonstra exatamente como lidar com esse tipo de entrevista, ou de informações. A não-atribuição da fonte por pedido da própria fonte faz parte de um código, digamos, moral dos jornalistas e deve ser estabelecida previamente – como foi feito entre Felt e Woodward já na primeira conversa telefônica.


Assim, O Homem Secreto se torna um estudo a respeito de confiança, fraude, pressões, alianças, dúvidas, uma vida inteira de segredos, mas essencialmente um estudo a respeito do trabalho jornalístico. Da mesma forma como o autor busca relatar a história do Garganta Profunda e humanizar esse personagem, ele também descreve todo o “por trás” de um trabalho de repórter e como a total dedicação a isso pode transformar a vida do jornalista..

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