sexta-feira, 15 de junho de 2007

Dois irmãos




Ganhador do prêmio Jabuti de melhor romance em 2001, Dois irmãos fala do ódio, do (não) relacionamento dos gêmeos Omar e Yaqub e da decadência de uma família manauense de classe média. Embora seja um tema não muito criativo - já explorado, inclusive, por Machado de Assis em Esaú e Jacó -, Milton Hatoum conquista seu leitor, especialmente, pelo modo como conduz seu enredo. Deixando-nos sempre cheios de dúvidas a respeito dos personagens, o autor brinca conosco, induzindo-nos ora a um caminho, ora a outro. A interpretação final cabe a nós próprios.

A narrativa inicia-se no início da década de 1920, percorre 40 anos e chega ao seu final na ditadura militar dos anos 60. Halim, um imigrante libanês, chega a Manaus e apaixona-se por Zana, filha de Galib, dono de um restaurante. Após o casamento, nascem os gêmeos - de personalidades completamente opostas - e Rânia. A história nos é contada pelo filho da empregada Domingas, cujo nome só será revelado nos últimos capítulos, trinta anos após o que nos é relatado.

Há dois pontos interessantíssimos no livro. O primeiro diz respeito à paternidade duvidosa de Nael (o filho de Domingas). Ao longo do romance, recebemos pistas. Yaqub é o preferido da empregada; não raramente encontravam-se no quarto dela para conversarem. Omar abusou sexualmente de Domingas "numa noite em que chegou muito bêbado". Em certo momento, ela diz que o caçula a possuiu "com a força de um homem" e que com ele, ela "não queria". Por último, surge a dúvida do chefe da família em apenas uma frase: "Tu nasceste quando o Halim brigou em praça pública". A tal briga resulta de fofocas que acusavam o marido de Zana de divertir-se "com as índias, com a empregada, com as mulheres da vida". Vale registrar também que o nome do narrador é dado pelo próprio Halim, por tratar-se do nome de seu pai.

O segundo refere-se a duas possibilidades de incesto. A mais visível é de Rânia com Yaqub, e uma passagem do texto é bem sugestiva: "Ainda chovia muito quando a vi subir a escada, de mãos dadas com Yaqub; entraram no quarto dela, alguém fechou a porta e nesse momento minha imaginação correu solta. Só desceram pra comer". A outra depende da forma como o leitor interpreta a narração. Se ele acredita que Halim possa ser o pai, então o incesto se dá quando Rânia se entrega às investidas, aos beijos e abraços de Nael.

Com esse excelente livro - totalmente merecedor do prêmio conquistado -, Milton Hatoum ingressa na literatura brasileira contemporânea de qualidade.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei, achei bem explicado, bem elatada a historia, da uma boa noção de como é o livro!