sexta-feira, 15 de junho de 2007

A Hora da Estrela




Em seu último livro publicado (morre no mesmo ano, 1977), Clarice Lispector escreve sobre Macabéa, uma alagoana de 19 anos, medíocre e sem qualquer perspectiva de vida. Uma grande personagem para as análises psicológicas e existenciais da autora.

Através de Rodrigo S.M., o primeiro narrador do sexo masculino de seus romances, percebemos traços claros das opiniões e da escrita de Lispector. Cria-se um "quase" heterônimo; os dois confundem-se em uma só pessoa - nas primeiras páginas do livro, inclusive, encontramos a Dedicatória do autor, com o sub-título Na verdade Clarice Lispector. A ucraniana naturalizada brasileira adota um estilo de narração em que pensamentos próprios podem ser escritos sob a forma de deboche ou ironia ("...para uma escritora mulher pode lacrimejar piegas...") sem que isso afete em nada sua principal característica, o intimismo psicológico.

As 87 páginas de A Hora da Estrela consistem numa busca constante por um sentido na vida, por uma descoberta. Na verdade, parece que Rodrigo S.M. se utiliza da história de Macabéa para questionar-se sobre a sua própria vida (embora não haja nenhum traço de biografia do narrador).

A nordestina é uma pessoa burra, ingênua, sem personalidade nem iniciativa. Ao perguntarem sua opinião, responde, simplesmente, "não sei". Quando fora demitida pelo chefe, acatou a decisão sem questionar, desculpando-se, ainda, pelo incômodo. O mesmo ocorreu ao ser "trocada" por Glória - sua colega de trabalho - pelo seu namorado. Decide ir a uma cartomante, única e exclusivamente porque lhe disseram que seria bom. Lá, Madame Carlota revela que seu futuro irá mudar: será rica e desejada; encontrará, em seu caminho, um estrangeiro. Saindo da consulta, feliz pelas previsões, é atropelada por uma Mercedes-Benz (provavelmente esse o seu "estrangeiro rico") e descobre-se internamente. As famosas epifanias de Clarice Lispector, normalmente ligadas à náusea, ocorrem nesse instante. Macabéa encontra-se, na morte, como a pessoa insignificante que sempre fora, não fazendo diferença a sua existência, ...existem outros bilhões no mundo. Seu momento máximo: Nesta hora exata Macabéa sente um fundo enjôo de estômago e quase vomitou, queria vomitar o que não é corpo, vomitar algo luminoso. Estrela de mil pontas.

Clarice é marcada na literatura brasileira como uma das leituras mais fortes e intensas, o que é comprovado lendo-se A Hora da Estrela. Não só pela ótima escrita, pela perfeita formulação do enredo, mas, principalmente, pelo crescimento interno proporcionado que Clarice Lispector, definitivamente, deve ser lida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pra varia BEM ESCRITO!Gostei bastante do q tu escreveu, realmente até me deixou com vntade de ler ela(porem dps do vestibular né) hehehe e pra varia tu teve q citar a "ironia" dela :P fanatica por um tom ironico :) bejos