sexta-feira, 15 de junho de 2007

Auto da Compadecida




Lançado em 1955, Auto da Compadecida é, certamente, o maior sucesso do escritor paraibano Ariano Suassuna. Desde lá, foi traduzida para diversos idiomas, foi encenada na Alemanha, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Israel, Polônia, Portugal, Suíça e República Tcheca e ainda conta com três versões cinematográficas, sendo que a última delas primeiro foi uma minisérie.

Ariano propõe um encontro do povo brasileiro com a sua cultura. Explora tradições e lendas populares nordestinas e adapta-as ao seu teatro. O castigo da soberba, recolhido por Leonardo Mota, transforma-se no julgamento dos personagens, após a morte, no céu. Através da História do cavalo que defecava dinheiro, também recolhida por Leonardo Mota, cria-se o "gato que descome dinheiro", vendido à mulher do padeiro por João Grilo. Finalmente, O enterro do cachorro, de Leandro Gomes de Barro, inspira, de certa forma, todo o enredo do livro, uma vez que o início das peripécias se dá com o pedido de Chicó e de João Grilo ao padre para que esse enterre o cachorro do padeiro e de sua mulher com honras em latim.

À maneira de Gil Vicente, o maior nome do teatro português até hoje, Ariano Suassuna recria os autos - peças teatrais de fundo religioso. Utiliza-se do humor, da linguagem simples e popular e do fundo moralizante, assim como Gil. Apesar do perdão a todos os pecadores no final de Auto de Compadecida, o autor critica os interesses da Igreja (que facilmente poderia ser aplicado aos interesses de todos nós) em dois momentos principais. Primeiro, quando o padre recusa-se a enterrar o cachorro do padeiro por ser contra os valores da instituição. Entretanto, muda de idéia e aceita de bom grado enterrá-lo ao saber que se trata do animal do grande Major Antônio Moraes. Segundo, quando surge o testamento do cachorro, favorecendo o sacristão com três contos de réis, o padre com quatro e o bispo com seis. As honras em latim são rapidamente aceitas e realizadas.

A nova edição, lançada em 2005, ainda conta com uma análise de Braulio Tavares sobre a obra, uma breve biografia do autor e ilustrações de Dantas Suassuna.

Tanto quanto ser visto nos palcos - ou no cinema, ou na televisão -, Auto da Compadecida deve ser lido. O trabalho desse membro da Academia Brasileira de Letras deve ser (re)conhecida por todos, já que ele escreve para todos e sobre todos.

2 comentários:

Anônimo disse...

É escrevendo bem novamente! Fazendo até comparações hehehehe, mas to gostando de ver, ta muito bom mesmo... Continua assim e vai longe lorinha :) bejo

Anônimo disse...

Muito boa análise, Jeh! Tá chegando naquele ponto onde tua crítica instiga quem a lê a comprar o livro, ou ao menos a procurá-lo nas prateleiras e dar "aquela namoradinha" básica...
Parabéns! Viu só como funciona?
Abração!!