sexta-feira, 15 de junho de 2007

Netto perde sua alma




Tabajara Ruas recria o cenário gaúcho e sul-americano do século XIX em Netto perde sua alma. Através de seis capítulos não cronologicamente organizados, relata a Revolução Farroupilha (1835-1845) e a Guerra do Paraguai (1864-1870) sob a ótica e vivência do proclamador da República Rio-grandense, General Netto. Por obter-se poucas e incompletas notas bibliográficas sobre esse personagem, o próprio autor diz: "Este romance não é, portanto, a história de Antônio de Souza Netto. É uma ficção a seu respeito, uma invenção, um sonho - meu, e de outros homens".

Madrugada de 1º de julho de 1866, segundo ano da guerra entre a Tríplice Aliança e o Paraguai. Encontra-se, no Hospital Militar Corrientes, República Argentina, o general Netto, ferido e sofrendo de grandes febres causadas pela Malária. No mesmo quarto encontram-se o capitão de Los Santos - cujas pernas foram amputadas pelo tenente-coronel Fointainebleux - e o major Ramírez - também ferido e sem o olho direito. Em visita, surge o sargento Caldeira - companheiro de batalhas de Netto e comandante do 1º Corpo de Laceiros -, porém não se sabe se em alucinações ou na realidade. General e sargento conversam e relembram tempos passados.

Voltamos vinte e seis anos, quinto ano da rebelião rio-grandense. Conversas com Bento Gonçalvez, encontro com Milonga - escravo e futuro soldado - e luta com índios charruas. Quatro anos antes, 1836, cento e oitenta combatentes morrem em apenas um dia. Netto, um dia antes de proclamar a República, pede mais cautela, "desencadear uma guerra não é uma virtude".

O texto avança nove anos; pára em 2 de março de 1845: fim da revolução. Um sentimento de fracasso atinge os postos mais altos do exército republicano. Milonga revolta-se contra o general, "para todos os homens negros a guerra não acabou", ameaça matá-lo. É morto antes de disparar por Caldeira.

Durante o exílio no Uruguai, Netto envolve-se novamente com ambições libertárias. Ano de 1861. Discussões sobre a ditadura de Solano López, sobre os reais motivos para iniciarem-se esses novos conflitos e sobre os interesses ingleses em ver o Paraguai destruído. O amor descoberto em Maria Escayola.

O livro acaba por onde começou, Hospital Corrientes, 1866. Netto e Caldeira assassinam Fointainebleux e de Los Santos- dois homens frios e calculistas que, certamente, seriam condecorados heróis no fim da guerra. "Matamos aqueles dois animais por motivos humanitários". Fica ao critério do leitor interpretar essas últimas (e primeiras) cenas como delírio ou realidade. Logo após, ocorre a morte de Netto.

Tabajara Ruas retrata duas guerras com sentimento, dá emoção aos personagens, vozes aos seus corações. Sua escrita envolvente e sedutora faz de Netto perde sua alma uma obra incrível. O mesmo vale para sua adaptação cinematográfica, vencedora de diversos prêmios, incluindo 4 Kikitos no Festival de Cinema de Gramado.

2 comentários:

Anônimo disse...

bah, texto grande, mas certamente demorei menos do q demoraria lendo o livro. hahahah

gostei bastante da crítica. Continua assim.

Anônimo disse...

Bem legal teu comentario sobre o livro, e tipo, é bem mais um "retrato historico" das guerras e tal, pelo menos me pareçeu hehehe... Diferente dos outros livros q tu vinha lendo, e novamente, BEM escrito!

Ps.: Agora talvez tu possa exercitar mais esse teu lado =P se é q tu me entende!